Necromaquiador: conheça o profissional responsável por 'visual sereno' dos corpos nos velórios
01/05/2025
(Foto: Reprodução) Necromaquiadora oferece um cuidado que ajuda a suavizar a dor do luto e permite que a despedida aconteça com mais leveza e dignidade. Conheça profissional responsável por maquiar e preparar corpos para o velório
Entre maquiagens, pincéis e flores, Mariella Helena Viana tem a responsabilidade de cuidar da última imagem que teremos de um ente querido. De Hortolândia (SP), ela atua como necromaquiadora, profissional que prepara visualmente os corpos para o velório.
Mais do que maquiar, Mariella oferece um cuidado silencioso, ajudando a suavizar a dor do luto e permitindo que a despedida aconteça com mais leveza e dignidade. No Dia Trabalhador, celebrado nesta quinta-feira (1º), o g1 conta detalhes sobre a profissão que desperta curiosidades.
💄 Abaixo, veja também como se tornar um necromaquiador e quanto o profissional pode ganhar.
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O que é necromaquiagem?
Diferente da maquiagem estética usada em vida, a necromaquiagem tem como objetivo suavizar os traços, amenizar marcas de sofrimento e devolver ao rosto do falecido uma expressão de serenidade. Além da maquiagem, o trabalho inclui ornamentação do corpo, como a escolha e disposição de flores, além da vestimenta.
Segundo Mariella, muitas famílias resistem ao serviço por dizerem que o ente “não usava maquiagem” e, portanto, não teria necessidade após a morte, mas ela reforça: "não é uma maquiagem de embelezamento. Ela é mais voltada, realmente, a trazer uma aparência mais natural, uma aparência mais leve, mais próximo do que a pessoa tinha em vida, dar aquela serenidade".
⚰️ A necromaquiagem faz parte das ciências mortuárias, que engloba diversas especialidades ligadas à morte. Entre elas, estão também:
necropsia: investigação para determinar a causa da morte;
reconstrução facial: correção do rosto em casos de danos ou deformações;
papiloscopia: identificação de pessoas através das impressões digitais;
tanatopraxia: preparação do corpo para o velório, com foco em assepsia, embalsamento e conservação;
cremação: redução do corpo a cinzas, seguindo critérios ambientais e legais;
agente funerário: responsável por toda a logística do funeral, do transporte do corpo à organização do velório, cremação ou enterro.
Da preparação à despedida
Produtos utilizados na preparação do corpo
Estevão Mamédio/g1
Segundo a profissional, a preparação de um corpo envolve várias etapas, desde o alinhamento do corpo no caixão até a vestimenta e ornamentação final. A necromaquiagem, em si, costuma levar entre 20 e 30 minutos.
No entanto, casos mais delicados, como vítimas de acidentes ou situações em que o corpo só foi encontrado dias depois, exigem mais tempo. Dessa forma, Mariella conta que o processo completo pode durar de duas a quatro horas.
E cada detalhe conta: o tom da base, a roupa escolhida, o tipo de flor. Ela explica que costuma pedir uma foto da pessoa em vida para tentar reproduzir, com fidelidade, traços marcantes.
“Por exemplo, batom. Ah, vermelho, mas tem vários tons de vermelho, vários tons de rosa. Então, a família traz pra gente aquele item específico que vai fazer a diferença pra gente trazer aí uma semelhança, né? O mais próximo possível do que ela usava em vida", explica Mariella.
Além disso, entre os materiais utilizados para o trabalho de maquiagem, a profissional explica que são os mesmos encontrados em prateleiras de loja de cosméticos comuns.
"Não precisa daquela infinidade de maquiagens, né? Batom cor nude, base três cores, uma bem clara, uma média e uma mais escura. E pó, né? Aí eu tenho demaquilante, algumas coisas assim pra poder ajudar. Lápis de olho, lápis de sobrancelha, essas a gente quase não utiliza", explica.
Preparação do caixão com flores
Estevão Mamédio/g1
Sensibilidade e equilíbrio emocional
Mais do que técnica, o trabalho exige sensibilidade e controle emocional. De acordo com Mariella, para atuar com pessoas em luto, é preciso acolher sem absorver a dor do outro. “Você precisa entender muito o que aquela família espera, como era aquela pessoa em vida. Tem que ter sensibilidade no atendimento, mas também bom senso”.
É necessário manter o profissionalismo para oferecer o apoio que a família precisa. “Quando a gente sai daqui, a vida continua lá fora. Se não for assim, o profissional não é adequado pra estar na profissão. Porque a família, quando ela vem pro atendimento, ela vem precisando de acolhimento, de apoio emocional”.
“Então, se você não tiver profissionalismo pra poder entregar isso pra família, esse momento se torna mais difícil”, completa.
Profissão cercada por preconceitos
De acordo com a necromaquiadora, trabalhar com corpos que perderam a vida recentemente envolve situações desconhecidas por grande parte das pessoas. Espasmos involuntários ou sons provocados por gases acumulados, por exemplo, são comuns durante o manuseio do corpo.
Acostumada com essas situações, ela diz que está preparada e não se assusta mais. Porém, o que incomoda mesmo é o preconceito. "As pessoas fazem piadinhas. Ou aquele: 'Deus me livre', né? 'Eu nunca trabalharia nessa profissão'. Mas, igual eu falei, eu também nunca busquei por isso, né? Não era um sonho trabalhar dentro de uma funerária".
"Mas, conforme você vai tendo vivência, do dia a dia mesmo, da rotina, e vendo o quanto que você leva de transformação pra vida daquelas famílias, né? Elas estão num momento mais difícil da vida delas. Você acaba vendo que é um trabalho muito digno, muito honroso, e que faz a diferença na vida das pessoas", completa.
O que é preciso para ser um necromaquiador?
A profissional recebeu uma capacitação dentro da própria funerária. Há também a opção de se especializar a partir de cursos oferecidos por empresas profissionalizantes. Além disso, é preciso atender a alguns requisitos básicos, como:
Habilidades em maquiagem e estética
Conhecimentos em biossegurança
Inteligência emocional
Ainda segundo Mariella, o salário-base é de R$ 2,2 mil.
Apesar de gostar da profissão, Mariella diz que não planejava trabalhar no setor. Ela começou na área administrativa de uma funerária e, com o tempo, passou a observar o impacto que a preparação tinha nas famílias. A admiração por essa transformação foi o que a levou a mudar de área.
"Eu via a diferença de quando a pessoa chegava na funerária, que é uma aparência que a gente assusta, né?... Mas quando o agente funerário, necromaquiador, fazia o trabalho dele, saía transformado ali pro velório", diz Mariella.
*Estagiária sob supervisão de Yasmin Castro.
Entre pincéis e flores: conheça profissional responsável por maquiar e preparar corpos para velórios
Estevão Mamédio/g1
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